quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Mais comentários interessantes

Como já mencionei antes, muitos comentários interessantes são postados aqui no blog, os quais nem sempre chegam ao conhecimento de todos os leitores, por aparecerem nas páginas dos posts a que se referem, muitas vezes publicados há algum tempo. Estou portanto reproduzindo alguns desses comentários em novos posts, para que essa troca de experiências se torne ainda mais enriquecedora para todos os seguidores de ‘Filhos bilíngues’. 

Hoje continuo esse exercício reproduzindo aqui alguns dos comentários feitos aos postsCriando filhos bilingues’, ‘Quando um dos pais não fala português’ e ‘A Torre de Babel é aqui’, publicados em outubro e novembro de 2010.

 



Ana Tereza Merger comentou em 13 de dezembro de 2010:
Sou brasileira e o meu marido é francês. Desde o começo do casamento deixamos bem claro para amigos e principalmente parentes que eu falaria em português com as crianças sempre, em qualquer ocasião, onde quer que fosse. Nicolas concordou e deu força. Hoje, Chloé entende tudo nas duas línguas, mas me responde na maioria das vezes em francês. Quando os meus pais estão por aqui ela não tem nenhuma dificuldade de se comunicar nas duas línguas. Estou fazendo o mesmo com o nosso segundo filho. A herança de poder falar fluentemente duas línguas é uma riqueza da qual não quis abrir mão para os meus filhos, mesmo que não seja tão evidente quanto possa parecer. Um grande abraço.

Claudia Storvik comentou em 13 de dezembro de 2010:
Olá Ana Tereza. Conheço muitas crianças que, como sua filha, respondem na língua do país de residência quando falamos com elas em português, mas os pais devem perseverar, exatamente como você está fazendo. Espero que o blog lhe dê algumas idéias úteis. Ensinar português ao segundo (e ao terceiro, quarto) filho é bem mais complicado que ao primeiro, por razões óbvias. É importante estar consciente disso e fazer um esforço extra. Um abraço, Claudia
[Nota: Os seguintes posts tratam de bilinguismo passivo e ordem de nascimento e multilinguismo: 'Bilinguismo passivo – Quando a criança se recusa a falar português' e 'O segundo filho tem menos chance de se tornar bilíngue?']

Fernanda comentou em 20 de janeiro de 2011:
Olá Claudia, te achei hoje na internet...são três horas da manhã e perdi o sono pensando: o que estou fazendo de errado??? Tenho dois filhos, um de 2 anos 9 meses e um de quatro meses e meio. Moro na Irlanda e sou casada com um irlandês. Em casa falamos só inglês porque meu marido não é fluente em português. Desde que meu primeiro filho nasceu eu me comunico com ele em português. Leio histórias para ele em português, coloco músicas brasileiras, enfim, minha comunicação com ele é totalmente na minha língua nativa, até porque não me sinto confortável falando inglês com ele. Pensei que ele fosse falar o português fluentemente comigo, já que fico com ele o dia todo e só me comunico com ele em português. Mas ele me surpreendeu ... ele fala o tempo todo inglês, inclusive comigo ... e eu me sinto um pouco triste ... é como se eu estivesse falhando ... não sei explicar esse sentimento. Como sei que ainda dá tempo de fazer alguma coisa - afinal, ele ainda não tem três anos - gostaria de saber se podia me aconselhar, e até indicar leituras para eu me sentir mais confiante. Quero, realmente, que ele fale minha língua e seja capaz de se expressar perfeitamente nas duas línguas. Muito obrigada. Abraços, Fernanda

Claudia Storvik comentou  em 28 de janeiro de 2011:
Olá, Fernanda. Nào se preocupe, você ainda tem tempo. Assumo que seu marido apoie a educação bilíngue de seus filhos. Você diz que fala português com eles todo o tempo, e isso é exatamente o que você tem que fazer; mas o mais velho obviamente já entendeu que não ‘precisa’ falar português com você. Sugiro que leia com atenção o post ‘Crianças bilíngues e o valor das línguas- seu filho parece precisar de motivação para falar português. Você não menciona isso, mas imagino que ele entenda português perfeitamente. Isso significa que ele já é bilíngue, mas é um bilíngue passivo, ou seja, apenas entende e não fala uma das línguas. É muito importante que você continue falando português com seus filhos, mesmo que o mais velho responda em inglês. E tente criar situações em que ele precise falar português. A estratégia que tenho certeza lhe ajudaria neste momento seria passar uma temporada no Brasil (não me leve a mal, mas ir sem o marido seria melhor ainda, pois as crianças iriam ter contato apenas com português durante toda a estadia) – e quanto mais tempo você puder ficar lá melhor. Como o problema do seu filho é falar, ele precisa de interação humana, e principalmente de situações em que haja necessidade de falar português. O post em questão sugere outras estratégias que você pode tentar caso não seja possível passar uma temporada no Brasil. Boa sorte! Claudia

Eros comentou em 28 de janeiro de 2011:
Olá Claudia, somos brasileiros e moramos no Brasil. Sou pai de uma tampinha linda de 2 anos, e gostaria de começar a conversar somente em inglês com ela. Porém, no início desse post você fez referência a especialistas que não aconselham isso. Você poderia me dar mais detalhes sobre esta informação? Obrigado, Eros

Claudia Storvik comentou em 28 de janeiro de 2011 :
Olá, Eros. Posso sim. O que o post diz é que alguns especialistas acham que tal conduta pode afetar de forma negativa o relacionamento futuro com a criança. Essa sugestão é feita dentro do contexto de famílias morando fora de seu país de origem. O abandono da língua materna pelos pais é desencorajado por questões de identidade da criança e preservação das relações familiares, bem como outros aspectos que também não se aplicam ao seu caso. Muitas famílias fazem o que vocês estão planejando fazer. A tarefa não é nada fácil, mas se você for realista e perseverar, não vejo por que não possa dar certo. O artigo neste link provavelmente vai ser útil para você. Um abraço, Claudia

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terça-feira, 15 de novembro de 2011

A experiência de voltar a morar no Brasil

O post Brincar-es faz referência ao 1º Seminário Brincar-es sobre bilinguismo e legislação para estrangeiros, que aconteceu em Madrid no dia 22 de outubro.

Vários documentos foram distribuídos aos participantes do seminário, entre eles um interessante depoimento escrito por Andreia Moroni, sobre o desenvolvimento linguístico de seus filhos após a volta da família ao Brasil, que merece ser compartilhado com os leitores do blog.

Conheci a Andreia através da blogosfera na fase inicial de Filhos Bilíngues e desde então tenho muita admiração pelo seu apoio ao Projeto Brasileirinhos, que incentiva o ensino de português para filhos de brasileros residentes em Barcelona.

Pedi a Andreia que escrevesse uma introdução para seu depoimento, contando um pouquinho sobre ela e sua família. Abaixo, a informação recebida e o depoimento distribuído no seminário em Madrid.

Agradeço a Andreia pela colaboração e a parabenizo por suas iniciativas em prol da educação infantil.


Andreia Moroni e sua família bilíngue
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“Meu nome é Andreia Moroni, tenho 30 anos e morei em Barcelona por quase 8 anos. Em agosto me mudei para Campinas - SP, minha cidade natal, com a família. Sou mãe do Mateo, 5, e da Ana Sofia, 2, ambos nascidos em Barcelona. O pai das crianças e meu companheiro, Juan Pablo, é mexicano. 

Em Barcelona, o sistema linguístico da família era OPOL: eu falava em português com as crianças, o JP em espanhol e, entre eu e o JP, também falávamos espanhol. Além dessas duas línguas, as crianças também aprenderam o catalão, língua oficial do sistema de ensino. Isso para vocês entenderem um pouco como era nossa dinâmica. Agora, no Brasil, mudei de time e estou falando só em espanhol com as crianças - MLH - e parece que está dando certo.

Entre as muitas coisas que fiz e faço, ajudei a fundar a Associação de Pais de Brasileirinhos da Catalunha e a organizar as aulas de português para crianças do Projeto Brasileirinhos em Barcelona (informações: presidentebrasileirinhos.bcn@gmail.com e brasileirinhos.bcn@gmail.com, respectivamente).

O blog Filhos Bilíngues foi uma descoberta saboreada com alegria pelas famílias que participam dos dois projetos, e é um grande prazer ter minhas palavras compartilhadas aqui. Muito obrigada, Claudia.


Sobre a experiência de voltar a morar no Brasil

Por Andreia Moroni para a Associação de Pais de Brasileirinhos na Catalunha e para o Brincar-es.

Queridos pais e mães de brasileirinhos, achei que seria válido compartilhar com vocês um pouco da experiência de voltar a morar no Brasil com dois filhos pequenos nascidos em Barcelona, que aprenderam a falar português aí. Acho que pode ser útil principalmente para os pais de crianças que não querem falar em português.

Chegamos ao Brasil há dois meses. O Mateo fez 5 anos dia 30 de setembro e a Ana Sofia está com 2, ainda começando a falar. O pai deles é mexicano e em casa falávamos mais em espanhol, embora eu sempre tenha falado com os dois em português. O Mateo era uma criança que entendia tudo em português, mas usava pouco a língua. Que ele tomasse a iniciativa de falar em português era algo que acontecia muito raramente. Mas acontecia.

Chegando aqui, ele não demorou nada em se soltar e se virava muito bem em português, segurava perfeitamente a onda de longas conversas 100% em português – com a família e o entorno. Tinha sotaque, sim, e construía algumas frases gramaticalmente meio estranhas, mas hoje, dois meses depois, já é praticamente um "nativo".

Queria que outras famílias soubessem que esse pequeno "milagre" pode acontecer, que de repente aquele seu filho que você achava que não falava português tem potencial para deslanchar. Mesmo que não tenham uma mudança para o Brasil nos planos, um ambiente estimulante é importante. O Mateo e a Sofia iam ao Projeto Brasileirinhos, comandado pela Marina Dias, uma das idealizadoras do projeto, e às aulas de música da Anna Ly (ambos em Barcelona), o que criou um círculo de amiguinhos e suas famílias que são referência de Brasil e da língua. Mas não há estímulo maior que você, pai ou mãe, falando com a criança. Mesmo que a criança não responda em português para você.

Acho importante outras famílias saberem do tal do "bilinguismo passivo" (explicado aqui), de tudo aquilo que eles aprendem sem necessariamente externalizar, para não achar que nosso esforço é em vão. Não é porque eles não falam que não sabem falar ou não poderão falar.

No caso do Mateo, saber português ajudou muitíssimo à adaptação dele aqui, ao "novo tudo". Mesmo que não seja esse o caso do seu filho, saber um idioma a mais é sempre uma vantagem. Como a Claudia, do blog “Filhos Bilíngues”, uma vez me disse: "já vi filhos de pais estrangeiros que se arrependeram dos pais não terem ensinado o idioma a eles. Porém, nunca vi o contrário acontecer, de alguém ter se arrependido por ter aprendido a língua dos pais".

Então, pais, não desanimem e continuem falando em português com as crianças. Outros lembretes úteis:

- Não falar em portunhol.

- Não forçar nem obrigar a criança a falar.

- Leve-a para fazer atividades gostosas e legais com outras crianças em português.

- Crie um vínculo afetivo entre a criança e a língua, com você e com outras experiências prazerosas e pessoas queridas, como família e amigos.

- Desperte a curiosidade dela pelo Brasil, qualquer coisa serve de ponto de partida – jogos, comidas, feriados, brincadeiras etc.

- Tenha orgulho de ser quem você é, brasileiro e falante de português. Se você mostrar que gosta, ela vai gostar. Se você sentir vergonha e transmitir a ela a idéia de que falar português foi uma desvantagem na sua vida, ela vai pensar assim também.”


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quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Nova York - II Encontro de Famílias Multiculturais que falam Português

Felicia Jennings-Winterle, do projeto Ciranda Cirandinhas, enviou a informação abaixo para divulgação aqui no blog. Espero que os leitores residentes na região de Nova York possam prestigiar o evento e parabenizo a organização Brasil em Mente pela inciativa.




A língua como herança

Em continuação ao I Encontro realizado em maio deste ano, o Espaço Família anuncia o II Encontro de Famílias Multiculturais que Falam Português. Espaço Família é uma divisão da organização Brasil em Mente que promove discussões, palestras e recursos para pais e avós interessados no bilinguismo como parte da educação de seus filhos.

Neste encontro, as psicólogas Martha Scodro e Malu Palma, a psicopedagoga Sharon Thomas e a professora Danielle Berna discutirão a língua portuguesa como língua de herança.

Várias dinâmicas serão realizadas com os pais e avós participantes, e entre pais e filhos para ilustrar como a heranca linguística é valiosa no futuro, como enriquecimento intelectual e cultural, e no presente, como estreitadora de laços.

Atividades paralelas para crianças e café da manhã incluídos no preço da inscrição.

Domingo, 20 de novembro, das 10 da manhã a 1 da tarde

$35 por adulto, $60 por casal de pais

$10 por criança (inclui atividades extras e mini aula de capoeira)

Local: 2W 47th st Ste 507 - New York, NY 10036

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Como uma criança de 8 anos se adaptou de volta ao Brasil depois de 4 anos vivendo na Inglaterra


No post “Como uma criança de 3 anos se tornou bilíngue em seis meses” conto a história de minha sobrinha Maria, que se mudou para a Inglaterra aos 3 anos de idade e rapidamente aprendeu a falar inglês. No post prometo contar a história da volta de Maria ao Brasil aos 8 anos, falando inglês melhor que português, alfabetizada em inglês mas incapaz de escrever uma palavra sequer em português. Promessa é dívida, portanto o relato segue aqui. No entanto, como eu e minha família ficamos na Inglaterra e seguimos a adaptação de Maria de volta ao Brasil apenas de longe, quem vai contar detalhes da história é minha irmã, a mãe de Maria. Abaixo, o seu relato.



“Eu não acredito em regras (receitas de bolo) no que diz respeito a educação de nossos filhos. Portanto, o que funciona para uma criança, nem sempre funcionara para outra. No caso de Maria, na volta ao Brasil nós optamos pela escola bilíngue porque não queríamos que ela esquecesse o inglês. Como nossa intenção era que ela se integrasse novamente ao sistema educacional brasileiro, colocá-la numa escola internacional estava fora de questão.

Sabíamos que ela rapidamente ficaria fluente no português escrito e falado e temíamos que ela fosse negligenciando o inglês. Era natural que ocorresse o processo inverso daquele que ocorreu quando nos mudamos para Londres, quando o inglês era dominante e o português era secundário. Aqui cabe lembrar que quando retornamos ao Brasil, Maria tinha 8 anos, falava português com algum sotaque, não escrevia em português e tinha, obviamente, um vocabulário restrito.

Nós voltamos para o Brasil em agosto e Maria começou a frequentar a escola em setembro, quer dizer, já no início do último trimestre letivo. Sei, por experiência, o quanto é difícil mudar de escola no meio do ano letivo, ainda mais quando existe a questão do domínio do idioma.  Mas, como para Maria não existe tempo ruim, ela se adaptou super bem na escola e fez vários amigos já no primeiro dia.

Claro que Maria teve aulas de reforço em português, mas, rapidamente e sem maiores dificuldades, ela atingiu o nível esperado para a idade. O que eu acho que realmente fez a diferença não foi o fato de a escola ser bilíngue, mas sim de a escola ser pequena, com poucos alunos por classe. Dessa forma, Maria recebeu a atenção e dedicação necessárias para o seu rápido aprendizado, sem, contudo, nenhum tipo de tratamento diferenciado. Ela era parte do grupo. E para crianças e adolescentes isso é muito importante.”

Hoje Maria frequenta uma escola monolíngue, mas continua falando inglês fluentemente. Ela exercita a língua assistindo programas de televisão e jogando jogos eletrônicos em inglês, navegando na internet, tirando a letra de músicas (que depois canta animada e repetidamente) e fazendo aquela algazarra bilíngue quando os primos, que também falam inglês e português fluentemente, vêm visitar. Ela também continua lendo em inglês, e sempre que viajamos ao Brasil levamos para ela de presente uma pilha enorme de livros, tanto novos quanto de segunda mão.

Sempre ouvi dizer que crianças esquecem uma segunda língua com a mesma rapidez com que a aprendem se não a usarem constantemente. Talvez pelo fato de a língua inglesa estar tão presente na vida dos jovens, esse não foi o caso de Maria, que continua fluente em inglês quatro anos após ter voltado ao Brasil. 



Copyright © Claudia Storvik, 2011. All rights reserved. 



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