quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Festival de literatura infantil em Londres


Como já mencionei tantas vezes aqui no blog, para crianças bilíngues experiências linguisticamente ricas em um idioma ajudam o desenvolvimento linguístico e literacia no outro. Por exemplo, ler, mesmo que em inglês (ou seja qual for a língua do país de residência da criança), entre outras coisas vai ter um impacto positivo também no aprendizado de português.

Portanto, é importante oferecer às crianças experiências linguisticamente ricas e plantar nelas a semente do amor pelos livros. Um festival de literatura infantil de três dias que vai acontecer em Londres em outubro oferece uma excelente oportunidade para tal.



O Word Up! Family Book Festival promete. Toda uma gama de autores de livros infantis vai estar lá, como Michael Morpurgo (War Horse), Jacqueline Wilson (Bad Girls e Tracy Beaker), Judith Kerr (The Tiger who came to Tea), Meg Rosoff (How I Live Now), Francesca Simon (Horrid Henry) e Mackenzie Crook (que atuou em The OfficePirates of the Carribean, e que acabou de escrever um livro para crianças). 

Além de muitas oficinas interessantes o festival também vai ter pintura facial, confecção de máscaras, contação de estórias, sessões de poesia, comédia, debates de filosofia, muita comida, um cortejo de bonecos e uma disco para menores de 5 anos. A London Philharmonic Orchestra, o bloco de carnaval Kinetica e os diretores da revista Okido também vão estar lá para ajudar os mais jovens a fazer música, criar estórias em quadrinhos e muito mais.

O Word Up! Family Book Festival acontece na Alleyn School em Dulwich, no sul de Londres (Townley Road, Dulwich, SE22 8SU), de sábado 22 de outubro a segunda 24 de outubro de 2011. A entrada e muitas das oficinas, atividades e eventos são gratuitos.

Para acessar o programa completo do festival clique aqui.


segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Na Inglaterra, habilidade verbal de crianças bilíngues é superior à de crianças monolíngues



O jornal The Sunday Times deste domingo, 25 de setembro, traz uma reportagem muito interessante sobre a habilidade verbal de crianças bilíngues comparada com a de monolíngues. Segundo Jean Gross, consultora do governo inglês para assuntos relacionados à cominicação e habilidades verbais, muitas crianças inglesas chegam à escola com menos habilidade para falar inglês do que crianças de minorias étnicas. A consultora destaca que a capacidade de comunicação de crianças tem piorado, especialmente nas famílias mais pobres, mas que os bilíngues, que falam inglês como segunda língua, representam uma exceção a essa regra. Diretores de escolas primárias inglesas confirmam que crianças monolíngues geralmente têm um inglês menos desenvolvido do que crianças que aprendem inglês como segunda língua.

A explicação da especialista é que muitas crianças aprendendo inglês como segunda língua vêm de famílias que vêem educação como uma coisa importante e portanto geralmente levam seus filhos para a biblioteca, lêem para eles e têm outros hábitos que nutrem seu desenvolvimento linguístico. 

Desde 2005 houve um aumento de 58% no número de crianças com problemas de desenvolvimento da fala no Reino Unido, com muitas em idade escolar sendo incapazes de pronunciar palavras simples ou formar frases. Cerca de 10% destas têm uma dificuldade biológica.

Diretores de várias escolas inglesas acham que o desenvolvimento linguístico mais avançado de crianças de minorias étnicas pode ser consequência de elas terem uma educação bilíngue. O diretor de uma escola do sul de Londres diz que muitos dos alunos monolíngues no jardim de infância sabem menos palavras em inglês do que os alunos bilíngues. A diretora de uma escola em Milton Keynes conclui: “Algumas crianças que têm inglês como segunda língua são excepcionalmente boas quando elas têm segurança na sua primeira língua.”

O artigo está disponivel online apenas para assinantes do jornal The Times/The Sunday Times.



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quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Pesquisa sobre aquisição simultânea de duas ou mais línguas

A estudante de Linguística Ana Paula Passos está procurando voluntários para participar de uma pesquisa relacionada à aquisição simultânea de vários idiomas por crianças. No texto abaixo Ana Paula dá detalhes da sua pesquisa. Você pode ajudar? 



“A aquisição bilíngue vem despertando o interesse de estudiosos há muito tempo. Um dos primeiros trabalhos é o do linguista francês Ronjat (1913) que observou o próprio filho adquirindo as línguas francesa e alemã simultaneamente e constatou considerável progresso na aquisição de ambas as línguas, com poucos indícios de confusão entre as mesmas. Segundo Ronjat, esses pequenos indícios de confusão surgiam devido ao fato de tanto ele quanto sua esposa usarem, cada um, sua língua materna ao se dirigir à criança. Ronjat pretendia observar em que momento a criança enxergaria as duas línguas como dois sistemas linguísticos distintos.

O trabalho de Leopold (1949) veio a questionar o trabalho de Ronjat. Leopold insistia que ele e sua esposa falassem apenas em suas línguas maternas com a filha – assim como Ronjat - e constatou que a criança passou por uma fase em que usava palavras do inglês e do alemão em um mesmo enunciado linguístico. Assim, Leopold concluiu que a “confusão” que sua filha fazia - assim como o filho de Ronjat - era um indício de que as crianças estavam, na verdade, encarando o processo de aquisição de duas línguas como um processo único, híbrido.

Como estudante de Letras, prestes a iniciar o mestrado em Linguística, com foco na aquisição bilíngue, propus-me a pesquisar crianças bilíngues (Português/Inglês) para responder as principais questões:

-          Definir em que momento dois sistemas linguísticos são tomados como distintos na aquisição bilíngue;
-          Verificar a predominância de uma língua sobre a outra, com base no montante de input, a partir de estudos de caso específicos.

Para desenvolver esse projeto de pesquisa, preciso de 3 crianças bilíngues com idades entre 1,5 e 3 anos (recém completos) que tenham um dos pais falante nativo de português brasileiro e outro falante nativo de inglês. O próposito é perceber quando e como se dá esse processo de "confusão" que assusta tantos pais na hora de oferecer uma educação bilíngue aos filhos. Assim, precisarei de gravações de falas espontâneas dessas crianças em situações naturais de interação com família e amigos. As gravações seriam de 30 minutos, uma vez por semana.

Sou noiva de polonês e meus filhos, provavelmente, serão multilíngues! Além de ser uma questão pessoal, resolvi levar para o lado científico e transformar esse assunto em objeto teórico de estudo para tentar compreeender melhor esse processo de aquisição de duas ou mais línguas simultaneamente. Como futura mãe de crianças multilíngues e pesquisadora em aquisição de linguagem, gostaria de saber se alguém poderia contribuir para essa pesquisa com gravações de falas de seus filhos - que NUNCA terão os nomes divulgados por questões éticas do meio científico - para que possamos enriquecer ainda mais a literatura sobre aquisição de linguagem e educar nossos filhos da maneira mais apropriada - em questões linguísticas, é claro - sem medo de confundí-los.

Muito obrigada.

Ana Paula Passos”

Interessados em participar da pesquisa podem entrar em contato com Ana Paula pelo email anapassos88@hotmail.com ou pelo telefone +55 21 81088070.

domingo, 11 de setembro de 2011

Como uma criança de três anos se tornou bilíngue em seis meses

Além de minha filha, os três  filhos de meu irmão e a filha de minha irmã são bilíngues. Hoje vou contar aqui a história de minha sobrinha Maria, que é um ano mais nova que minha filha.



Maria nasceu no Brasil e lá viveu até os três anos. Frequentou um jardim de infância na sua cidade natal dos dois aos três anos de idade.

Logo após Maria completar três anos, seus pais se mudaram para a Inglaterra para fazer uma pós-graduação. Ela veio com eles. A rapidez com que a pequena aprendeu inglês, bem como o processo como esse aprendizado se deu, diante dos nossos olhos, foram surpreendentes.

Quando aqui chegou, Maria não falava uma palavra sequer de inglês, mas tinha muita vontade de aprender, pois sua priminha mais velha (minha filha) falava inglês fluentemente e ela também queria falar. A família passou a morar num apartamento ao lado de nossa casa, e estávamos sempre em contato. Em casa todos falávamos português, com exceção de meu marido, que se comunicava com todos em inglês. O contato de Maria com a língua inglesa em casa era portanto mínimo.

No entanto, algmas semanas depois de sua chegada, Maria começou a frequentar a “nursery” na mesma escola onde minha filha estudava. Começava uma revolução.

Alguns dias após começar a frequentar a escola, Maria passou a emitir sons quando brincava sozinha, quase que como um bebê balbuciando, mas esse balbuciar soava como alguém falando frases na língua inglesa, algo como “out wra-row get-wey!”. A sua profesora, nossa querida Mrs Roberts, nos contou que muitas vezes Maria fazia isso na sala de aula e quando ela ia ver o que a menina estava dizendo - pois parecia estar falando inglês - percebia que se tratava apenas desse balbuciar com sotaque...

Um incidente engraçado ocorreu no dia em que Maria de repente passou a dizer insistentemente para a professora: “Lps! Lps! Lps!” Sem entender o que ela queria dizer, a professor chamou minha filha para traduzir. Minha filha perguntou a Maria – em português - o que ela queria, ao que obteve a resposta: “Lps!”. Disse então à pobre Mrs Roberts – que a essa altura já suava em bicas - que não  tinha idéia do que Maria queria, pois também  não  estava falando português. Demos boas risadas quando minha filha nos contou a história, e até hoje não  sabemos o que Maria queria dizer com “Lps!”.

Após algum tempo a pequena passou a falar frases inteiras em inglês – sem ter passado por uma fase em que falasse palavras soltas. No entanto, era claro que apesar de dizer as frases perfeitamente com um lindo sotaque britânico, Maria não  tinha idéia do que estava dizendo. As frases eram obviamente aquelas que ela ouvia com mais frequência na escola. Nessa fase a observávamos falando inglês com meu marido, mas usando frases totalmente fora de contexto. Um exemplo de um diálogo típico seria:

Meu marido: “How are you today?”
Maria: “Let’s play now.”
Meu marido: “Have you had dinner?”
Maria: “Well done!”

No entanto, muito rapidamente Maria passou a dominar o significado das palavras e frases e se tornou capaz de se comunicar em inglês de maneira muito eficiente. Seis meses após ter chegado na Inglaterra já se podia dizer que ela era bilíngue.

Maria ficou na Inglaterra quatro anos, passou a falar inglês como nativa, e após algum tempo começou a ter problemas com o português, tanto que se tivesse uma opção ela geralmente preferia falar inglês ao invés de português. Em resumo, o inglês havia se tornado sua língua dominante.

Para nós, a experiência de ver diariamente o processo de aprendizado de uma língua estrangeira por uma criança de três anos foi uma coisa interessantíssima. A facilidade, rapidez e naturalidade com que o aprendizado se deu surpreenderam a todos. A meu ver, o processo não  foi de todo diferente de como aprendemos uma primeira língua: praticamos os sons daquela língua, nos familiarizamos com um grande número de palavras sem necessariamente saber seu significado e então partimos para a comunicação efetiva. A capacidade de aprendizado das crianças é realmente fenomenal.

A história da volta de Maria ao Brasil, com um inglês muito melhor que o português, também é muito interessante, mas é assunto para um outro post.



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