Em vários
posts anteriores, especialmente nos que trato do desenvolvimento da linguagem,
menciono que é muito importante que os pais falem bastante com os filhos
pequenos. Uma das causas mais comuns de atraso no desenvolvimento da fala e de outras
habilidades, tanto de crianças bilíngues como de monolíngues, é simplesmente a
falta de estímulo.
Quando
minha filha era bebê eu falava muito com ela, explicava tudo, descrevia o que
estava à nossa volta, o que estávamos fazendo, filosofava em voz alta, contava
casos, estorinhas, etc. Como eu sabia que eu era a única fonte de aprendizado
de português para ela, eu caprichava intencionalmente no início, mas com o tempo
isso se tornou um hábito. Acabei ficando tão acostumada a agir assim que quando
nós adotamos dois gatinhos eu passei a falar com eles também sem parar. Todos
diziam que daquele jeito eu ia acabar ensinando os gatos a falar português!
Agora um
artigo publicado no site do New York Times discute a importância dessa prática
e sugere que a chave para a aprendizagem precoce em geral parece estar na fala
- mais especificamente, na exposição de uma criança à língua falada pelos pais desde
o nascimento até os três anos de idade. Quanto mais, melhor.
O
artigo começa explicando que com um ano de idade uma criança pobre
provavelmente já tem um atraso com relação a crianças de classe média da mesma
idade em sua capacidade de falar, compreender e aprender. A diferença entre as
crianças pobres e as mais ricas aumenta a cada ano, e quando entram na escola já
existe um abismo entre elas. Tentativas de fechar essa lacuna nas escolas têm
falhado, e alguns especialistas sugerem que essas tentativas devam começar
muito antes da escola ou da pré-escola, talvez até mesmo antes do nascimento.
No
entanto, não há unanimidade sobre a forma que essas tentativas devam tomar,
porque não há consenso sobre o problema em si. Por que a pobreza limita a
capacidade da criança de aprender?
Entra
no debate uma idéia nova: a de que a chave para a aprendizagem precoce está na exposição
de uma criança à língua falada pelos pais desde o nascimento até os três anos
de idade. A idéia já foi colocada em
prática com sucesso em pequenos estudos, mas está prestes a obter seu primeiro
teste em grande escala. A cidade de Providence, nos Estads Unidos, que já tem
uma rede de programas em que enfermeiros, conselheiros, terapeutas e
assistentes sociais fazem visitas domiciliares regulares a mulheres grávidas, novos
pais e filhos, oferecendo atendimento médico e aconselhamento e terapia, agora vai treinar esses profissionais para oferecer
um novo serviço: estimular a conversação entre pais e filhos. O programa será
baseado em pesquisas que demonstram que, em média, aos três anos de idade uma criança
pobre ouviu 30 milhões de palavras a menos em seu ambiente doméstico do que uma
criança de classe média. E quanto maior o número de palavras que a criança ouviu
de seus pais ou responsáveis antes dos três anos, maior o seu QI e melhor o
seu desempenho escolar.
Providence planeja começar a matricular
famílias no programa em janeiro de 2014, e espera atingir cerca
de 2.000 novas famílias a cada ano. Os profissionais vão compartilhar com as
famílias estratégias específicas para falar mais: como é que você fala com o
seu bebê sobre o seu dia? Qual é a melhor maneira de ler para seu filho? Segundo
o prefeito de Providence, esta é uma oportunidade de colocar as crianças mais
pobres em pé de igualdade com as de classe média.
Então vamos lá, mesmo que você não
more em Providence, guarde esse iPhone/iPad/laptop e comece a falar com seu
filho. Quanto mais, melhor!
O artigo do New York Times pode ser
acessado na íntegra aqui.
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