quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A Torre de Babel é aqui

Que língua cada um dos pais vai falar com a criança? Acidentes de percurso podem acontecer até que a fórmula seja encontrada.  



A rotina de nossa família até nossa filha fazer dois anos era que eu falava português e meu marido falava norueguês com ela - o famoso sistema “one parent, one language”. Como morávamos na Inglaterra e falávamos inglês entre nós, ela também estava exposta ao inglês.

Quando começou a falar, nossa filha escolhia uma língua para cada palavra, e seu vocabulário era uma mistura. Por exemplo, ela inicialmente dizia “bye-bye” somente em inglês, “melk” (leite) e “sko” (sapato) somente em norueguês e algumas outras palavras somente em português (como “cubicero” e “ione” – quem adivinhar o significado ganha um brinde). Às vezes as três línguas eram usadas na mesma frase. Mas como ela passava a maior parte do tempo comigo, seu vocábulario em português aumentou mais rapidamente que nas outras duas línguas, de forma que após alguns meses, quando nos dirigíamos a ela em nossas respectivas línguas, ela respondia predominantemente em português.

Quando  os filhos pequenos começam a falar português, um parceiro não falante do idioma pode sentir uma enorme motivação para finalmente estudar a língua, e pode tentar aprende-la com os filhos. Meu marido tinha exatamente esses planos quando nossa filha começou a se comunicar com ele em português. No entanto, o vocabulário de uma criança normalmente aumenta com tal velocidade que quando ela chega à idade de 2 anos já deixou o adulto muito para trás. No nosso caso as coisas não foram diferentes.

Nessa fase meu marido falava com nossa filha em norueguês, ela respondia em português, e ele tentava assimilar as palavras novas que ela usava. No entanto, o vocabulário dela aumentou tanto ao ponto de logo ele não entender mais o que ela dizia. Com o passar do tempo ela também desenvolveu um vocabulário razoável em inglês, então quando ela tinha pouco mais de dois anos meu marido passou a falar com ela em inglês ao invés de norueguês, pois assim ela respondia também em inglês e ele entendia o que ela dizia. Uma pena, mas nesse caso comunicação era obviamente mais importante que imersão.

Até hoje meu marido não fala português, mas tenho certeza que a essa altura ele entende o idioma muito bem. Quanto à minha filha e a língua norueguesa, durante a infância ela entendia muito, mas falava pouco. Continuamos expondo-a à lingua mesmo assim. Há uns 4 anos ela passou a falar cada vez mais e hoje, aos 12 anos, é bastante competente também nesse idioma, apesar de não ter a fluência de falante nativa que tem em português e inglês.

Finalmente, uma coisa muito importante deve ser notada: durante todo o processo meu marido nunca se queixou ou sugeriu que eu parasse de falar português com nossa filha. Ele sempre apoiou a educação trilíngue dela e sempre teve clara consciência das vantagens do multilinguismo. Ele é tão responsável quanto eu por nossa filha ter aprendido as três línguas na infância.

Copyright © Claudia Storvik, 2010. All rights reserved.


9 comentários:

Julia Campos disse...

Oi Claudia! ADOREI o seu blog! Maravilhoso! Ja virei seguidora! muito obrigada! Por favor continua escrevendo nesse blog, esta fantastico! Beijos, Julia xxxxx

Claudia Storvik disse...

Oi Julia, obrigada pelo comentario e por virar seguidora. Nao se preocupe que os artigos vao continuar sendo publicados regularmente. Tenho muita coisa pra contar pra voces. Claudia

Lcuia Jonhson disse...

Ola Claudia! tudo bem! puxa eu gostei muito do seu blog! parabens! Minha filha tem 5 anos, e o meu marido nasceu na Italia! Que mistura, ne? Eu sou brasileira, e minha filha fala uma mistura de Italiano e Portuguese com Ingles!! Em fim, ja sou seguidora, e sou muito grata a voce por escrever um blog tao legal, que vai nos ajudar muito! Obrigada! Beijos x

Claudia Storvik disse...

Ola Lucia, tres linguas e tres nacionalidades, como aqui em casa! Obrigada por se tornar seguidora e boa sorte. Claudia

Anaté Merger disse...

Sou brasileira e o meu marido é francês. Desde o começo do casamento deixamos bem calro para amigos e principalmente parentes que eu falaria em português com as crianças sempre, em qualquer ocasiao, onde quer que fosse. Nicolas concordou e deu força. Hoje, Chloé entende tudo nas duas linguas, mas me responde na maioria das vezes em Francês. Quando os meus pais estao por aqui ela nao tem nenhuma dificuldade de se comunicar nas duas linguas. Estou fazendo o mesmo com o nosso segundo filho. A herança de poder falar fluentemente duas linguas é uma riqueza a qual nao quis abrir mao para os meus filhos, mesmo que nao seja tao evidente quanto possa parecer. Um grande abraço e quando puder venha me visitar na www.naprovence.com.

Claudia Storvik disse...

Olá Ana Tereza, seja bem-vinda. Obrigada pelos comentários e por virar seguidora. Conheço muitas crianças que, como sua filha, respondem na língua do país de residência quando falamos com elas em português, mas os pais devem perseverar, exatamente como você está fazendo. Espero que o blog lhe dê algumas idéias úteis. Ensinar português ao segundo (e ao terceiro, quarto) filho é bem mais complicado que ao primeiro, por razões óbvias. É importante estar consciente disso e fazer um esforço extra. Passei no seu site, que gostei muito - agora já sei a quem recorrer quando estivermos planejando nossas próximas férias na Provence! Um abraço, Claudia

Anônimo disse...

Oi Claudia,

Achei o seu blog, e já sou seguidora. Sou casada com um alemão, e cada um fala a sua língua materna com as crianças. Moramos por quase 4 anos em Miami e lá os meninos começaram a falar inglês e espanhol. Agora estamos de volta à Alemanha, e aqui eles fazem aula de inglês e depois quero achar uma aula de espanhol também, mais para frente.
Ah, como adoro brincar, acho que na linguagem da sua filha cubiceiro era travesseiro e ione, parece danone. Bom obrigada pelo blog. Valéria

Claudia Storvik disse...

Ola, Valeria. Seja bem-vinda. Obrigada pelo comentario e por se tornar seguidora. Voce acertou em cheio, cubiceiro era travesseiro sim, mas ione nao era Danone - essa acho que ninguem adivinha... Seus filhos entao falam alemao, portugues, ingles e espanhol. Parabens! Espero que volte sempre. Um abraco, Claudia

Anônimo disse...

Hahah "ione" seria telefone?
Adorei seu blog! Parabéns.
Um abraço,
Ná.

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