quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

O que não dizer para seus sogros estrangeiros nas festas de fim de ano

Assim como eu, muitos dos leitores de ‘Filhos bilíngues’ são casados com pessoas de nacionalidade diferente da sua. Nessa situação, nosso relacionamento com a família de nossa cara metade pode ser excelente ou um tanto quanto atribulado, mas em todos os casos um pouco de tato de nossa parte pode surtir bons efeitos.



Tenho muita sorte pois a família de meu marido é maravilhosa e me adotou de coração. No entanto, durante esse meu ano e pouco na globosfera materna internacional percebi que o mesmo não ocorre em todos os casamentos internacionais, e que brasileiros e brasileiras sofrem pelo mundo afora por causa de conflitos com sogros, cunhados, sobrinhos, etc.  Na maioria das vezes as causas desses conflitos são diferenças culturais. Como lidar com tais diferenças poderia ser o tema de um tratado de mestrado, mas existem algumas regras simples que, mesmo não resultando necessariamente num relacionamento harmonioso, podem pelo menos ser usadas para evitar conflitos.

Sem sombra de dúvida, a regra mais importante é ser diplomático - sempre. Mas o que isso significa na prática? Pelo menos para as festas de fim de ano, encontrei dicas excelentes num artigo do site Multilingual Living.  O texto traz uma lista das 10 coisas que pessoas em casamentos internacionais que estejam indo passar as festas com a família do cônjuge realmente devem evitar dizer para seus sogros durante a visita. Abaixo, a lista das dez frases destruidoras da paz:

1.    “Em meu país nós nunca preparamos este prato desta maneira.”
Resista ao impuso de explicar como o prato em questão é preparado em seu país de origem. O melhor é elogiar a comida e pronto.  

2.    “Eu não vejo a hora de voltar a morar no Brasil.”
Se você vive perto dos seus sogros, falar sobre uma mudança para outro país pode deixá-los muito tristes.

3.    “A maneira como se faz [x, y, z] neste país é horrível.”
Acho que essa dispensa qualquer comentário...

4.    “Como alguém pode viver com esse clima horrível?”
Seus sogros podem apreciar o clima do lugar vivem e, mesmo que não gostem, um comentário desses não vai levar a nada.

5.    “O governo neste país é tão… ”
Falar sobre política com qualquer um é complicado, portanto o tema requer muito cuidado. Mesmo que você e seus sogros tenham as mesmas convicções políticas, algumas afirmações são arriscadas e podem ser entendidas como um ataque.

6.    “Seu filho/filha não gosta mais disso.”
Num casamento internacional cada um tem que se adaptar aos costumes do cônjuge, que podem ser bem diferentes. Seus sogros podem não perceber exatamente quais preferências e costumes de seu filho/filha mudaram. Se alguém tem que falar sobre isso com eles, melhor que seja seu esposo e não você.

7.    “Por favor não se meta na nossa vida.”
Principalmente com relação à educação de nossos filhos, o fato de não querermos fazer as coisas da mesma maneira que nossos sogros não significa que nós não podemos pelo menos ouvir seus conselhos. Simplesmente não precisamos seguí-los.

8.    “Nossos filhos adoram estar com meus pais.”
Independentemente da qualidade do relacionamento de seus sogros com seus filhos, nunca os compare com seus pais.

9.    “A maneira como sua família faz as coisas é realmente estranha.”
Pode parecer inofensivo mencionar as diferenças que nos irritam, mas esse nem sempre é o caso, e muitas vezes isso pode magoar até nosso próprio esposo. O melhor é reconhecer que as coisas são diferentes. Se algo for um problema muito grande converse separadamente sobre isso com seu cônjuge.

10. “Posso lhe dar um conselho?”
Mesmo que você ache que um membro da família de seu esposo poderia estar agindo de modo diferente, se a situação não atinge você diretamente, melhor ficar de bico calado.

Feliz ano novo a todos, e muita diplomacia com os sogros internacionais!



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terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Conte-me e esquecerei. Mostre-me e lembrarei. Envolva-me e entenderei.

Há muito tempo as pessoas tentam entender como os seres humanos aprendem e consequentemente como as crianças devem ser educadas. A maioria dos sistemas educacionais hoje se baseia na suposição de que crianças nascem para ser “ensinadas”, e não para aprender.

Resultados de pesquisas recentes começam a esclarecer a distinção essencial entre “aprendizagem” e “ensinamento”. Com esta melhor compreensão (que começou a partir dos anos 80) de como as crianças aprendem, nota-se como sua curiosidade inata pode ser destruída por instituições educacionais insensíveis e pouco desafiadoras, e por falta de apoio emocional. Parece que em pleno século 21 ainda não conseguimos aceitar a sugestão de Einstein de que “a imaginação é mais importante do que o conhecimento”.

Por não entender a necessidade instintiva dos adolescentes de encontrar sua própria maneira de fazer as coisas, a sociedade ocidental está correndo o risco de criar um sistema educacional que vai tão contra a natureza do cérebro adolescente, que o ensino convencional acaba involuntariamente trivialisando os jovens que deveria apoiar. Se os sistemas educativos atuais não se guiarem por pesquisas na area biológica e nas ciências sociais, continuarão a tratar a adolescência como um problema, e não como a oportunidade que ela representa.

Tendo as idéias acima como base, a 21st Century Learning Initiative lançou uma série de animações curtas, narradas pelo ator britânico Damian Lewis.

A 21st Century Learning Initiative foi estabelecida em 1995 por um grupo de organizações e de homens de negócios ingleses e americanos para dar sentido a pesquisas sobre educação e considerar criticamente os processos de aprendizagem fragmentados em várias disciplinas diferentes atualmente em voga. Hoje a 21st Century Learning Initiative oferece programas de formação a organizações e grupos no Reino Unido e no Canadá.

Duas animações da serie “Born to learnseguem abaixo. Matéria para reflexão ...












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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Livros infantis em português online para o seu natal

Issuu é um serviço disponível através da internet, que permite a visualização de material digital, como livros, revistas e jornais. Enquanto muitos dos documentos são criados especificamente para serem vistos online, alguns podem ser baixados e salvos.

Especialmente para os pais que têm dificuldade de encontrar livros em português na cidade onde moram, o Issuu pode ser uma excelente ferramenta para o desenvolvimento da biliteracia infantil. 

Fiz uma pesquisa rápida no site e montei para vocês uma pequena biblioteca de livros e revistas infanto-juvenis em português (alguns em português de Portugal) que espero que gostem. São 18 revistas e livros no total - clique na seta à direita das prateleiras para ver mais publicações.

Boa leitura! 








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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Autora convidada: Madalena Cruz-Ferreira

No post ‘Devemos usar apenas uma língua com crianças que apresentam atraso no desenvolvimento da fala?’ recomendo a leitura de um artigo escrito pela especialista Madalena Cruz-Ferreira, PhD em Linguística e Fonética pela Universidade de Manchester.

Após a publicação desse post tive a enorme honra de ser contatada por Madalena, que é portuguesa, e de ter ‘Filhos Bilíngues’ adicionado à lista de leitura do seu blog, ‘Being Multilingual. Madalena se dedica ao multilinguismo, adulto e infantil, há mais de 35 anos. É casada com um sueco, vive em Singapura, e é mãe de três filhos trilíngues. É autora de muitos livros de sucesso sobre multilinguismo, inclusive um especificamente sobre aquisição da língua portuguesa 

Sou fã de carteirinha de Madalena há muito tempo, mas nunca havia lido um livro ou artigo sobre multilinguismo escrito por ela em português. Para minha grande alegria, e para o enorme benefício dos leitores, Madalena gentilmente aceitou meu convite para escrever um artigo em nossa querida língua materna para publicação em ‘Filhos Bilíngues’. O excelente texto segue abaixo. Aproveitem, pois ter a oportunidade de ler algo sobre o tema escrito em português por uma especialista de nível internacional é coisa rara. 


Preocupações multilíngues – ou talvez não

Madalena Cruz-Ferreira

Muitas das perguntas que recebo de pais e educadores recém-chegados ao multilingualismo refletem as preocupações que eu própria tive, como mãe novata dos primeiros meninos multilíngues na minha família e na do meu marido. Por exemplo: Que língua(s) devo usar com os meus filhos, e como? (Resposta: a língua ou as línguas que sejam naturais para si, como forem naturais para si.) Usar várias línguas com uma criança pode afetar, ou atrasar, o seu desenvolvimento linguístico e cognitivo? (Resposta, bem concisa: Não.)

Outras perguntas têm a ver com aquisição da linguagem, isto é, com o desenvolvimento típico de qualquer criança independentemente do número de línguas usadas na família ou na comunidade. Por exemplo: A minha filha começou a tentar juntar palavras para dizer frases e começou a gaguejar, será por nós falarmos duas línguas com ela? (Resposta: construir frases fluentes implica muita ginástica de músculos ligados à fala, e muita ginástica intelectual. Coordenar tudo isso requer treino, e treino prolongado. Meninos monolingues também gaguejam nesta fase de aprendizagem, e todos os meninos também tropeçam e caem quando aprendem a andar e querem correr.) 

Todas as perguntas, no entanto, refletem um sentimento de diferença, e principalmente de exceção: nós, multilíngues, somos diferentes deles, monolingues, e eles são a norma. O que resulta em pensar que meninos multilíngues fazem ou não fazem certas coisas porque são multilíngues. Eu gosto sempre de questionar perguntas, para ver se elas têm razão de ser, e uma questão é certa: a convicção de que o multilingualismo causa, ou afeta, ou piora, ou melhora, ou tem alguma coisa a ver com o desenvolvimento da linguagem e o desenvolvimento geral infantil é apenas isso, uma convicção. Não existe fundamento científico para afirmar que uma quantidade, número de línguas, tenha influência numa qualidade, aquisição da linguagem.

O motivo da arbitrariedade de afirmações deste tipo é simples: ser multilíngue, ou monolingue, não é mais nem menos “normal” do que o inverso, porque desde sempre os seres humanos usaram uma ou mais línguas. As línguas, e o número de línguas de que necessitamos, são instrumentos que nos identificam com a comunidade em que nascemos e vivemos, e que servem os nossos objetivos e as nossas práticas culturais. O multilingualismo não é recente nem estranho: o que é recente e estranho é a convicção de que ele é recente e estranho. Fala-se de CLD children (culturally and linguistically diverse children) ‘meninos culturalmente e linguisticamente diversos’, como se meninos monolingues fossem culturalmente e linguisticamente homogéneos; e fala-se de meninos que usam heritage languages, ‘línguas de herança’, como se meninos monolingues não tivessem herança linguística. Os multilíngues não são responsáveis pelos termos que pesquisadores e falantes monolingues gostam de colar neles, e que não têm significado real.

Penso que será bom mudarmos as nossas convicções. Primeiro, porque elas não refletem os factos; e segundo, porque as preocupações que derivam delas se entranham no nosso contato com os nossos meninos, e podem vir a afetá-los a eles também: eles vão crescer pensando que são “diferentes”, sem entender bem como nem porquê. Isto é tanto mais irrelevante que ser multilíngue é de facto a regra. Existe mais gente no mundo que usa mais de uma língua no dia a dia do que gente que usa uma só língua. Não faz sentido caracterizar uma maioria como especial ou como exceção, e não faz sentido querer observar multilíngues com olhos de monolingue – por que não o inverso, nesse caso? Um monolingue também parece bem estranho, visto com olhos de multilíngue. Não é difícil encontrar diferenças e estranhezas: basta querer encontrá-las, porque somos todos diferentes. Por isso eu acho que é mais interessante procurar o que temos em comum: todos nós usamos o repertório linguístico que temos, uma língua ou mais, de acordo com o que é relevante na nossa vida.

Para voltar a perguntas frequentes que recebo, e cujas respostas se ligam a típicos comportamentos multilíngues, os multilíngues usam cada uma das suas línguas de forma diferente, porque é para isso que precisam de línguas diferentes. Isto significa que cada língua naturalmente se desenvolve de forma diferente também: uma para falar com a mãe, outra com o pai, outra com os professores e amigos na escola, ou entre irmãos – é isto mesmo que se passa na minha família, por exemplo. E as chamadas “misturas de línguas” são típicas tanto do multilingualismo como do monolingualismo. Quando falamos de robôs, ou de tufões, ou da internet, estamos a misturar línguas. Estas palavras não são portuguesas, e só ficaram portuguesas porque falantes do português assim decidiram, pela força do uso, e necessariamente por primeiro uso de um multilíngue, que as conhecia de outra língua. São as convenções humanas que fazem os usos: as palavras não pertencem às línguas, pertencem às pessoas que as usam. Uma criança que diz Quero o meu teddy-bear! está a fazer o mesmo, usando as palavras que achou úteis na sua experiência linguística total, para exprimir o que é importante para ela.

Este último exemplo ressalta uma nota final que queria deixar aqui: muitas vezes notamos o que os nossos meninos multilíngues não fazem, e descuramos aquilo que eles fazem. Usar palavras de línguas diferentes significa usar línguas diferentes, e assim fazer o que todos os multilíngues fazem. Meninos, tal como todos nós, aprendem fazendo.


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Mais informações sobre o trabalho de Madalena Cruz-Ferreira e sobre como entrar em contato com ela podem ser encontradas no seu blog ou em sua página acadêmica, ‘Being Multilingual’.


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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Mais comentários interessantes

Como já mencionei antes, muitos comentários interessantes são postados aqui no blog, os quais nem sempre chegam ao conhecimento de todos os leitores, por aparecerem nas páginas dos posts a que se referem, muitas vezes publicados há algum tempo. Estou portanto reproduzindo alguns desses comentários em novos posts, para que essa troca de experiências se torne ainda mais enriquecedora para todos os seguidores de ‘Filhos bilíngues’. 

Hoje continuo esse exercício reproduzindo aqui alguns dos comentários feitos aos postsCriando filhos bilingues’, ‘Quando um dos pais não fala português’ e ‘A Torre de Babel é aqui’, publicados em outubro e novembro de 2010.

 



Ana Tereza Merger comentou em 13 de dezembro de 2010:
Sou brasileira e o meu marido é francês. Desde o começo do casamento deixamos bem claro para amigos e principalmente parentes que eu falaria em português com as crianças sempre, em qualquer ocasião, onde quer que fosse. Nicolas concordou e deu força. Hoje, Chloé entende tudo nas duas línguas, mas me responde na maioria das vezes em francês. Quando os meus pais estão por aqui ela não tem nenhuma dificuldade de se comunicar nas duas línguas. Estou fazendo o mesmo com o nosso segundo filho. A herança de poder falar fluentemente duas línguas é uma riqueza da qual não quis abrir mão para os meus filhos, mesmo que não seja tão evidente quanto possa parecer. Um grande abraço.

Claudia Storvik comentou em 13 de dezembro de 2010:
Olá Ana Tereza. Conheço muitas crianças que, como sua filha, respondem na língua do país de residência quando falamos com elas em português, mas os pais devem perseverar, exatamente como você está fazendo. Espero que o blog lhe dê algumas idéias úteis. Ensinar português ao segundo (e ao terceiro, quarto) filho é bem mais complicado que ao primeiro, por razões óbvias. É importante estar consciente disso e fazer um esforço extra. Um abraço, Claudia
[Nota: Os seguintes posts tratam de bilinguismo passivo e ordem de nascimento e multilinguismo: 'Bilinguismo passivo – Quando a criança se recusa a falar português' e 'O segundo filho tem menos chance de se tornar bilíngue?']

Fernanda comentou em 20 de janeiro de 2011:
Olá Claudia, te achei hoje na internet...são três horas da manhã e perdi o sono pensando: o que estou fazendo de errado??? Tenho dois filhos, um de 2 anos 9 meses e um de quatro meses e meio. Moro na Irlanda e sou casada com um irlandês. Em casa falamos só inglês porque meu marido não é fluente em português. Desde que meu primeiro filho nasceu eu me comunico com ele em português. Leio histórias para ele em português, coloco músicas brasileiras, enfim, minha comunicação com ele é totalmente na minha língua nativa, até porque não me sinto confortável falando inglês com ele. Pensei que ele fosse falar o português fluentemente comigo, já que fico com ele o dia todo e só me comunico com ele em português. Mas ele me surpreendeu ... ele fala o tempo todo inglês, inclusive comigo ... e eu me sinto um pouco triste ... é como se eu estivesse falhando ... não sei explicar esse sentimento. Como sei que ainda dá tempo de fazer alguma coisa - afinal, ele ainda não tem três anos - gostaria de saber se podia me aconselhar, e até indicar leituras para eu me sentir mais confiante. Quero, realmente, que ele fale minha língua e seja capaz de se expressar perfeitamente nas duas línguas. Muito obrigada. Abraços, Fernanda

Claudia Storvik comentou  em 28 de janeiro de 2011:
Olá, Fernanda. Nào se preocupe, você ainda tem tempo. Assumo que seu marido apoie a educação bilíngue de seus filhos. Você diz que fala português com eles todo o tempo, e isso é exatamente o que você tem que fazer; mas o mais velho obviamente já entendeu que não ‘precisa’ falar português com você. Sugiro que leia com atenção o post ‘Crianças bilíngues e o valor das línguas- seu filho parece precisar de motivação para falar português. Você não menciona isso, mas imagino que ele entenda português perfeitamente. Isso significa que ele já é bilíngue, mas é um bilíngue passivo, ou seja, apenas entende e não fala uma das línguas. É muito importante que você continue falando português com seus filhos, mesmo que o mais velho responda em inglês. E tente criar situações em que ele precise falar português. A estratégia que tenho certeza lhe ajudaria neste momento seria passar uma temporada no Brasil (não me leve a mal, mas ir sem o marido seria melhor ainda, pois as crianças iriam ter contato apenas com português durante toda a estadia) – e quanto mais tempo você puder ficar lá melhor. Como o problema do seu filho é falar, ele precisa de interação humana, e principalmente de situações em que haja necessidade de falar português. O post em questão sugere outras estratégias que você pode tentar caso não seja possível passar uma temporada no Brasil. Boa sorte! Claudia

Eros comentou em 28 de janeiro de 2011:
Olá Claudia, somos brasileiros e moramos no Brasil. Sou pai de uma tampinha linda de 2 anos, e gostaria de começar a conversar somente em inglês com ela. Porém, no início desse post você fez referência a especialistas que não aconselham isso. Você poderia me dar mais detalhes sobre esta informação? Obrigado, Eros

Claudia Storvik comentou em 28 de janeiro de 2011 :
Olá, Eros. Posso sim. O que o post diz é que alguns especialistas acham que tal conduta pode afetar de forma negativa o relacionamento futuro com a criança. Essa sugestão é feita dentro do contexto de famílias morando fora de seu país de origem. O abandono da língua materna pelos pais é desencorajado por questões de identidade da criança e preservação das relações familiares, bem como outros aspectos que também não se aplicam ao seu caso. Muitas famílias fazem o que vocês estão planejando fazer. A tarefa não é nada fácil, mas se você for realista e perseverar, não vejo por que não possa dar certo. O artigo neste link provavelmente vai ser útil para você. Um abraço, Claudia

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terça-feira, 15 de novembro de 2011

A experiência de voltar a morar no Brasil

O post Brincar-es faz referência ao 1º Seminário Brincar-es sobre bilinguismo e legislação para estrangeiros, que aconteceu em Madrid no dia 22 de outubro.

Vários documentos foram distribuídos aos participantes do seminário, entre eles um interessante depoimento escrito por Andreia Moroni, sobre o desenvolvimento linguístico de seus filhos após a volta da família ao Brasil, que merece ser compartilhado com os leitores do blog.

Conheci a Andreia através da blogosfera na fase inicial de Filhos Bilíngues e desde então tenho muita admiração pelo seu apoio ao Projeto Brasileirinhos, que incentiva o ensino de português para filhos de brasileros residentes em Barcelona.

Pedi a Andreia que escrevesse uma introdução para seu depoimento, contando um pouquinho sobre ela e sua família. Abaixo, a informação recebida e o depoimento distribuído no seminário em Madrid.

Agradeço a Andreia pela colaboração e a parabenizo por suas iniciativas em prol da educação infantil.


Andreia Moroni e sua família bilíngue
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“Meu nome é Andreia Moroni, tenho 30 anos e morei em Barcelona por quase 8 anos. Em agosto me mudei para Campinas - SP, minha cidade natal, com a família. Sou mãe do Mateo, 5, e da Ana Sofia, 2, ambos nascidos em Barcelona. O pai das crianças e meu companheiro, Juan Pablo, é mexicano. 

Em Barcelona, o sistema linguístico da família era OPOL: eu falava em português com as crianças, o JP em espanhol e, entre eu e o JP, também falávamos espanhol. Além dessas duas línguas, as crianças também aprenderam o catalão, língua oficial do sistema de ensino. Isso para vocês entenderem um pouco como era nossa dinâmica. Agora, no Brasil, mudei de time e estou falando só em espanhol com as crianças - MLH - e parece que está dando certo.

Entre as muitas coisas que fiz e faço, ajudei a fundar a Associação de Pais de Brasileirinhos da Catalunha e a organizar as aulas de português para crianças do Projeto Brasileirinhos em Barcelona (informações: presidentebrasileirinhos.bcn@gmail.com e brasileirinhos.bcn@gmail.com, respectivamente).

O blog Filhos Bilíngues foi uma descoberta saboreada com alegria pelas famílias que participam dos dois projetos, e é um grande prazer ter minhas palavras compartilhadas aqui. Muito obrigada, Claudia.


Sobre a experiência de voltar a morar no Brasil

Por Andreia Moroni para a Associação de Pais de Brasileirinhos na Catalunha e para o Brincar-es.

Queridos pais e mães de brasileirinhos, achei que seria válido compartilhar com vocês um pouco da experiência de voltar a morar no Brasil com dois filhos pequenos nascidos em Barcelona, que aprenderam a falar português aí. Acho que pode ser útil principalmente para os pais de crianças que não querem falar em português.

Chegamos ao Brasil há dois meses. O Mateo fez 5 anos dia 30 de setembro e a Ana Sofia está com 2, ainda começando a falar. O pai deles é mexicano e em casa falávamos mais em espanhol, embora eu sempre tenha falado com os dois em português. O Mateo era uma criança que entendia tudo em português, mas usava pouco a língua. Que ele tomasse a iniciativa de falar em português era algo que acontecia muito raramente. Mas acontecia.

Chegando aqui, ele não demorou nada em se soltar e se virava muito bem em português, segurava perfeitamente a onda de longas conversas 100% em português – com a família e o entorno. Tinha sotaque, sim, e construía algumas frases gramaticalmente meio estranhas, mas hoje, dois meses depois, já é praticamente um "nativo".

Queria que outras famílias soubessem que esse pequeno "milagre" pode acontecer, que de repente aquele seu filho que você achava que não falava português tem potencial para deslanchar. Mesmo que não tenham uma mudança para o Brasil nos planos, um ambiente estimulante é importante. O Mateo e a Sofia iam ao Projeto Brasileirinhos, comandado pela Marina Dias, uma das idealizadoras do projeto, e às aulas de música da Anna Ly (ambos em Barcelona), o que criou um círculo de amiguinhos e suas famílias que são referência de Brasil e da língua. Mas não há estímulo maior que você, pai ou mãe, falando com a criança. Mesmo que a criança não responda em português para você.

Acho importante outras famílias saberem do tal do "bilinguismo passivo" (explicado aqui), de tudo aquilo que eles aprendem sem necessariamente externalizar, para não achar que nosso esforço é em vão. Não é porque eles não falam que não sabem falar ou não poderão falar.

No caso do Mateo, saber português ajudou muitíssimo à adaptação dele aqui, ao "novo tudo". Mesmo que não seja esse o caso do seu filho, saber um idioma a mais é sempre uma vantagem. Como a Claudia, do blog “Filhos Bilíngues”, uma vez me disse: "já vi filhos de pais estrangeiros que se arrependeram dos pais não terem ensinado o idioma a eles. Porém, nunca vi o contrário acontecer, de alguém ter se arrependido por ter aprendido a língua dos pais".

Então, pais, não desanimem e continuem falando em português com as crianças. Outros lembretes úteis:

- Não falar em portunhol.

- Não forçar nem obrigar a criança a falar.

- Leve-a para fazer atividades gostosas e legais com outras crianças em português.

- Crie um vínculo afetivo entre a criança e a língua, com você e com outras experiências prazerosas e pessoas queridas, como família e amigos.

- Desperte a curiosidade dela pelo Brasil, qualquer coisa serve de ponto de partida – jogos, comidas, feriados, brincadeiras etc.

- Tenha orgulho de ser quem você é, brasileiro e falante de português. Se você mostrar que gosta, ela vai gostar. Se você sentir vergonha e transmitir a ela a idéia de que falar português foi uma desvantagem na sua vida, ela vai pensar assim também.”


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quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Nova York - II Encontro de Famílias Multiculturais que falam Português

Felicia Jennings-Winterle, do projeto Ciranda Cirandinhas, enviou a informação abaixo para divulgação aqui no blog. Espero que os leitores residentes na região de Nova York possam prestigiar o evento e parabenizo a organização Brasil em Mente pela inciativa.




A língua como herança

Em continuação ao I Encontro realizado em maio deste ano, o Espaço Família anuncia o II Encontro de Famílias Multiculturais que Falam Português. Espaço Família é uma divisão da organização Brasil em Mente que promove discussões, palestras e recursos para pais e avós interessados no bilinguismo como parte da educação de seus filhos.

Neste encontro, as psicólogas Martha Scodro e Malu Palma, a psicopedagoga Sharon Thomas e a professora Danielle Berna discutirão a língua portuguesa como língua de herança.

Várias dinâmicas serão realizadas com os pais e avós participantes, e entre pais e filhos para ilustrar como a heranca linguística é valiosa no futuro, como enriquecimento intelectual e cultural, e no presente, como estreitadora de laços.

Atividades paralelas para crianças e café da manhã incluídos no preço da inscrição.

Domingo, 20 de novembro, das 10 da manhã a 1 da tarde

$35 por adulto, $60 por casal de pais

$10 por criança (inclui atividades extras e mini aula de capoeira)

Local: 2W 47th st Ste 507 - New York, NY 10036

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Como uma criança de 8 anos se adaptou de volta ao Brasil depois de 4 anos vivendo na Inglaterra


No post “Como uma criança de 3 anos se tornou bilíngue em seis meses” conto a história de minha sobrinha Maria, que se mudou para a Inglaterra aos 3 anos de idade e rapidamente aprendeu a falar inglês. No post prometo contar a história da volta de Maria ao Brasil aos 8 anos, falando inglês melhor que português, alfabetizada em inglês mas incapaz de escrever uma palavra sequer em português. Promessa é dívida, portanto o relato segue aqui. No entanto, como eu e minha família ficamos na Inglaterra e seguimos a adaptação de Maria de volta ao Brasil apenas de longe, quem vai contar detalhes da história é minha irmã, a mãe de Maria. Abaixo, o seu relato.



“Eu não acredito em regras (receitas de bolo) no que diz respeito a educação de nossos filhos. Portanto, o que funciona para uma criança, nem sempre funcionara para outra. No caso de Maria, na volta ao Brasil nós optamos pela escola bilíngue porque não queríamos que ela esquecesse o inglês. Como nossa intenção era que ela se integrasse novamente ao sistema educacional brasileiro, colocá-la numa escola internacional estava fora de questão.

Sabíamos que ela rapidamente ficaria fluente no português escrito e falado e temíamos que ela fosse negligenciando o inglês. Era natural que ocorresse o processo inverso daquele que ocorreu quando nos mudamos para Londres, quando o inglês era dominante e o português era secundário. Aqui cabe lembrar que quando retornamos ao Brasil, Maria tinha 8 anos, falava português com algum sotaque, não escrevia em português e tinha, obviamente, um vocabulário restrito.

Nós voltamos para o Brasil em agosto e Maria começou a frequentar a escola em setembro, quer dizer, já no início do último trimestre letivo. Sei, por experiência, o quanto é difícil mudar de escola no meio do ano letivo, ainda mais quando existe a questão do domínio do idioma.  Mas, como para Maria não existe tempo ruim, ela se adaptou super bem na escola e fez vários amigos já no primeiro dia.

Claro que Maria teve aulas de reforço em português, mas, rapidamente e sem maiores dificuldades, ela atingiu o nível esperado para a idade. O que eu acho que realmente fez a diferença não foi o fato de a escola ser bilíngue, mas sim de a escola ser pequena, com poucos alunos por classe. Dessa forma, Maria recebeu a atenção e dedicação necessárias para o seu rápido aprendizado, sem, contudo, nenhum tipo de tratamento diferenciado. Ela era parte do grupo. E para crianças e adolescentes isso é muito importante.”

Hoje Maria frequenta uma escola monolíngue, mas continua falando inglês fluentemente. Ela exercita a língua assistindo programas de televisão e jogando jogos eletrônicos em inglês, navegando na internet, tirando a letra de músicas (que depois canta animada e repetidamente) e fazendo aquela algazarra bilíngue quando os primos, que também falam inglês e português fluentemente, vêm visitar. Ela também continua lendo em inglês, e sempre que viajamos ao Brasil levamos para ela de presente uma pilha enorme de livros, tanto novos quanto de segunda mão.

Sempre ouvi dizer que crianças esquecem uma segunda língua com a mesma rapidez com que a aprendem se não a usarem constantemente. Talvez pelo fato de a língua inglesa estar tão presente na vida dos jovens, esse não foi o caso de Maria, que continua fluente em inglês quatro anos após ter voltado ao Brasil. 



Copyright © Claudia Storvik, 2011. All rights reserved. 



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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Comentários a ‘Pais multilíngues’

Muitos comentários interessantes são postados aqui no blog, os quais nem sempre chegam ao conhecimento de todos os leitores, por serem publicados nas páginas dos posts a que se referem, muitas vezes publicados há algum tempo. Resolvi então reproduzir alguns desses comentários em novos posts, para que essa troca de experiências se torne ainda mais enriquecedora para todos os seguidores de ‘Filhos bilíngues’. 

Hoje dou início a esse exercício reproduzindo aqui alguns dos comentários feitos ao post ‘Pais multilíngues’, publicado em 28 de outubro de 2010, no qual trato da definição do sistema linguístico familiar de casais multilíngues.




Jux comentou em 27 de outubro de 2011:
Puxa! Preciso agradecer imensamente a generosidade em partilhar esse texto tão lúcido! Sou brasileira, moro na Alemanha há 10 meses, meu marido é alemão. Estamos juntos há 4 anos e nosso idioma sempre foi o inglês - tanto ele quanto eu somos fluentes. Diante do fato de morarmos na Alemanha e eu estar fazendo aprendizado da língua alemã, percebemos a dificuldade em nos comunicar em alemão. Esse trecho do texto foi, em especial, um bálsamo para nós: "[...] esse fracasso em mudar o idioma usado entre nós foi um fato positivo para o nosso relacionamento. Segundo ele, eu e meu marido estamos em uma situação de igualdade, pois ambos usamos uma segunda língua para nos comunicarmos um com o outro. Se tivéssemos conseguido mudar para norueguês meu marido estaria em vantagem, porque a comunicação se daria em sua língua materna, enquanto eu estaria usando uma língua da qual não sou falante nativa.[...]” Conversamos sobre seu texto e ele concordou integralmente e disse ainda que sente uma dificuldade enorme, da parte dele mesmo, em conversar em alemão comigo e que eu acabo me esforçando mais do que ele, em manter um diálogo em alemão. Como você bem descreveu: criamos o hábito. Funciona assim, para nós: coisas ultra-básicas até consigo falar em alemão. Mas AMAMOS conversar sobre mil assuntos e a troca para a língua inglesa ocorre porque esse é o nosso idioma, é a linguagem sem barreiras que se identifica plenamente com nosso relacionamento.
Seu blog é maravilhoso! Se eu puder contribuir de alguma forma, conte comigo!

Amanda comentou em 14 de outubro de 2011:
Não tenho filhos, mas esse post foi de uma utilidade incrível pra entender minha relação linguística com meu companheiro francês. Como nos conhecemos na Austrália e passamos um ano lá, só nos comunicávamos em inglês. Depois passamos um ano no Brasil, onde conseguimos mudar nossa língua para português. Depois viemos para a França, onde estamos há cinco anos, e até hoje não conseguimos fazer a transição para o francês! Isso é uma grande frustração pra mim. E como você disse, eu já acostumei com os erros de gramática dele (e às vezes até repito) e a língua dele se "fossilizou". Muito obrigada por todas essas informações! Eu não fazia ideia!

Ana Passos comentou em 13 de setembro de 2011:
"O idioma usado se torna uma definição do relacionamento. Mudar o idioma é como uma negação do passado. Quanto mais profundo o relacionamento, mais difícil é mudar, e muitos casais acham essa mudança impossível. Em teoria não existe nada que impeça essa mudança, mas na prática, segundo os autores, isso simplesmente não acontece.” Concordo plenamente. Meu noivo, que é polonês, se esforça demais pra aprender português, afinal, por enquanto, moramos no Brasil. Ele pede para que eu fale português com ele para que ele aprenda mais rápido, mas logo voltamos para o inglês, pois a situação de comunicação fica artificial. A sensação que tenho é que parece que não somos mais o mesmo casal quando usamos outra língua que não seja o inglês. Línguas e a relação que mantemos com elas são, realmente, fascinantes! Parabéns pelo blog, mais uma vez!

Alexandra  comentou em 19 de março de 2011:
Preciso de ajuda. Sou portuguesa e o meu marido é servio. Nós viemos viver na Dinamarca há pouco mais de um ano, local onde nasceu o nosso filho. Entre eu e o meu marido falamos inglês, não sabemos falar ainda dinamarquês, a língua nativa para o nosso filho. Eu falo com o nosso bebê em português e o meu marido fala com ele em sérvio, os médicos, enfermeiros e amizades dinamarquesas falam com ele em dinamarquês. No entanto eu sei que ele ouve eu e o pai dele a falar outra lingual (inglês). Isto será mais tarde confuso para ele? O que fazer nesta situação?

Claudia Storvik comentou em 19 de março de 2011:
Olá Alexandra. Sugiro que você leia o post 'Sistemas linguísticos domésticos que promovem o bilinguismo'. Você vai notar que nesse post digo que a língua usada entre o pai e a mãe não tem influência no desenvolvimento linguístico da criança, a menos que seja também usada na comunicação direta com ela. Vocês devem continuar fazendo o que é natural para sua família, ou seja, cada um usar sua língua materna com a criança, e inglês entre si. Se vocês forem consistentes seu filho não vai ficar confuso, não se preocupe.

Alexandra  comentou em 19 de março de 2011:
Olá Claudia, agradeco a sua ajuda; acabei de ler o post que me indicou. Pelos vistos estamos a fazer bem até agora e continuaremos a manter o método. Mais uma vez obrigada e continue com o excelente trabalho. 



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