O tema da blogagem coletiva deste mês – o parto - é um que para mim faz parte de um passado meio distante, pois minha única filha já está com 12 anos. Mesmo assim, aceitei o desafio – minha contribuição segue abaixo.
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No 6° mês de gravidez nos mudamos da Noruega para a Inglaterra. Algum tempo antes mesmo da mudança comecei a investigar e fazer planos para o parto, que aconteceria em Londres, onde iríamos morar e trabalhar.
Hospital público ou particular?
Uma das primeiras coisas que fiz quando soube que estava grávida – depois de me certificar que minha querida mãezinha poderia vir do Brasil para estar conosco na época do nascimento - foi investigar se o plano de saúde oferecido pela minha empresa cobriria o custo do parto num hospital particular. Descobri que não cobriria. A norma aqui era ter filhos em hospitais públicos.
No entanto, ao longo dos anos conheci mães que tiveram seus filhos no Portland Hospital, o único hospital particular com maternidade em Londres, ou em alas particulares de hospitais públicos, portanto há opções - pelo menos para quem pode pagar.
No entanto, ao longo dos anos conheci mães que tiveram seus filhos no Portland Hospital, o único hospital particular com maternidade em Londres, ou em alas particulares de hospitais públicos, portanto há opções - pelo menos para quem pode pagar.
Quem opta por hospital particular normalmente paga pelos serviços do seu próprio bolso, pois os planos de saúde em geral não cobrem partos. Para dar uma idéia do custo, um parto normal no Portland Hospital custa perto de £3,000 e uma cesariana £4,000, incluindo 24 horas de estadia no hospital. Cada noite adicional custa £1,000. Além disso há o custo do obstetra, que vai de £3,000 a £4,000, mais o do anestesista. O total normalmente fica bem acima de £10,000.
Os custos são um pouco mais baixos - mas não muito - nas maternidades de alas particulares de hospitais públicos, como na Lansdell Suite no St Thomas’ Hospital em Londres. Abaixo, o comentário de uma mãe que teve uma filha lá há alguns anos:
“Tive minha segunda filha no Lansdell em agosto de 2006. O parto ocorre na maternidade do hospital [público] portanto não é diferente da opção do NHS, mas se você ficar na ala particular você tem um médico cuidando de você e um time de funcionários à sua disposição. Acho que o custo total foi cerca de £7,500 incluindo médico, hospital, anestesista e pediatra. Eu fui muito bem atendida e vou voltar lá para ter o bebê número 3.”
Devido ao alto custo dos hospitais particulares e à falta de cobertura por planos de saúde, bem como pelo fato das maternidades públicas em geral serem boas, a grande maioria das mulheres continua optando por dar à luz em hospitais públicos.
Parto normal ou cesariana?
A Rainha Elizabeth II nasceu de cesariana em 1926. Algumas fontes dizem que ela teve seus quatro filhos também por cesariana, mas não consegui confirmar a veracidade dessa informação. Já a Princesa Diana teve seus dois filhos por parto normal.
Pouco mais de 20% dos partos na Inglaterra são cesarianas – a maioria delas de emergência. Nos hospitais públicos, onde acontece a maioria esmagadora dos partos, praticamente não ocorrem cesarianas eletivas.
Assume-se que o parto vai ser normal, a não ser que a mulher tenha algum problema de saúde ou complicação da gravidez e que a cesariana seja recomendada por razões médicas. No entanto, quem teve o primeiro filho por cesariana de emergência pode optar por ter os seguintes por cesariana também, mesmo que não haja razões médicas óbvias para tal.
Na Inglaterra existe uma expressão um tanto pejorativa usada para descrever mulheres que têm cesarianas eletivas: ‘too posh to push’ (algo como ‘chique demais pra fazer força’).
Parto domiciliar
As naturalistas podem optar por ter ter seus filhos em casa, pois as mulheres têm direito garantido de escolher o local onde querem dar à luz. Mesmo assim, apenas 2% dos partos são domiciliares. Para quem tem interesse, mais informação aqui.
A nossa experiência
Ao chegar a Londres nos associamos ao National Childbirth Trust (NCT), onde frequentamos o curso pré-natal e, além de receber informações importantes e adquirir um pouco mais de segurança para encarar a empreitada, conhecemos outros casais na mesma situação. Especialmente para quem está longe da família, o NCT é um sistema de apoio bem bacana, que eu recomendo.
Decidimos que o parto seria num hospital público. Por essa razão, a qualidade dos hospitais locais foi um fator importante na decisão de em que bairro morar quando nos mudamos, pois o normal é as mulheres terem seus filhos no hospital da região onde vivem.
Tive apenas que me registrar com um GP (general practitioner, ou clínico geral), como é de praxe aqui, e ele cuidou de todos os detalhes práticos relativos aos meses finais da gravidez e ao parto. O acompanhamento pré-natal foi feito pela parteira que atendia na clínica dele. Ela também me acompanhou durante várias semanas após o parto, vindo até a nossa casa para examinar o bebê e a mamãe regularmente.
Fiz apenas duas visitas a obstetras: uma para um exame de rotina e uma porque minha filha não tinha nascido após 41 semanas de gestação. Nessa ocasião o médico conversou comigo sobre a possibilidade de induzir o parto. Pedi que não induzissem e esperassem pelo menos mais duas semanas, o que eles concordaram fazer. E assim foi durante todo o processo, tanto no pré-natal quanto no parto em si: prevaleceu sempre a minha vontade. Portanto, é super importante estar bem informada. Eu por exemplo descobri que o hospital onde ia ter minha filha oferecia a possibilidade da parturiente ficar num quarto individual, mediante o pagamento de £35 por noite,
se fizesse o pedido com antecedência. Claro, não havia possibilidade de reservar o quarto, tudo dependia de um estar disponível no dia que eu desse à luz. Foi o que ocorreu. E como o bebê ficou no quarto comigo, a nossa estadia no hospital deixou ótimas lembranças.
Em cada visita pré-natal ao obstetra a gestante vê um médico diferente, e o obstetra que efetivamente faz o parto é o que estiver de plantão na maternidade na hora. No meu caso o parto foi feito por um médico grego, que por sorte eu já conhecia - ele era o médico que tinha concordado em não induzir o meu parto.
Vou poupar o amigo leitor dos detalhes gráficos do evento, mas vale dizer que no momento do nascimento de nossa filha a sala de parto parecia uma conferência das Nações Unidas: uma mãe brasileira, um pai norueguês, um médico grego, uma parteira inglesa, outra filipina – e um bebê que ao nascer já tinha três nacionalidades. Assim começava a interessante jornada multilíngue e multicultural de nossa filhota, desde o primeiro momento temperada com uma dose maciça de internacionalismo.
Copyright © Claudia Storvik, 2011. All rights reserved.
Para ler os posts de outras mães participantes da Blogagem Coletiva: Mães Internacionais sobre o parto em seus países clique aqui.
7 comentários:
Cláudia,
Parabéns pelo texto. Acho que aqui na Irlanda as coisas funcionam praticamente do mesmo jeito.
Um beijo,
N.
Adorei o Post, se a filhota virar diplomata e for parar na ONU já sabemos como tudo começou! =)
Beijocas
Põe multicultural nisso!!!!!
Gostei muito de ler sobre o parto na Inglaterra. O parto é um assunto pelo qual sou apaixonada e adoro saber sobre como é na prática em outros países.
Bjs
Como sempre um post super informativo e recheado! E a "filhinha" sempre esteve predestinada a ser uma cidada de muitas culturas mesmo né?! Muito legal! bjos
ola, Claudia que delicia ler todas estas informaçoes e experiencias, muito bonito ver todos estes depoimentos intimos e a força feminina de cada uma, beijao. Carine
adorei o texto! mto interessante e completo, parabéns!
to amando saber mais sobre a experiencia de cada uma nos diferentes países.
beijao!
Claudia, ADOREI teu "relato" de parto.
Tudo mt informativo e escrito desse modo maravilhoso!
Parabéns
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