domingo, 27 de fevereiro de 2011

Crianças, línguas estrangeiras e comunicação

Estou escrevendo este post em uma ilha onde faz sol e calor o ano todo, e onde a língua oficial é o espanhol. Há muitos anos passamos férias aqui, e ficamos sempre no mesmo condomínio, onde os veranistas são na sua maioria escandinavos, alemães, italianos e franceses, nessa ordem.

O condomínio tem vários restaurantes; o nosso favorito fica ao ar livre, num jardim à beira mar, com comida e serviço nota mil, e que é tocado pelo mesmo casal há mais de 20 anos. Esse casal tem duas filhas crescidas, que se mudaram da ilha para frequentar uma universidade. Mas há quatro anos tiveram a pequena Adriana, uma menina linda e ultra extrovertida. Também, pudera. Seus pais trabalham no restaurante das 10 da manha às 8 da noite, 7 dias por semana, e desde que nasceu Adriana passa os dias com eles ali.



Quando era bebê ela dormia no carrinho ao lado das mesas dos clientes noruegueses, suecos e alemães, e sem dúvida desde então ouve regularmente mais línguas estrangeiras diferentes do que o filho de qualquer leitor deste blog.

Adriana agora frequenta a escola na parte da manhã e à uma da tarde chega ao condomínio, onde fica até 8 da noite, correndo entre as palmeiras, brincando na beira da piscina, empurrando seu carrinho de boneca ou desenhando em um pequeno quadro negro que tem à sua disposição no restaurante. Como a estadia média de famílias com crianças no condomínio é de sete dias, Adriana é forçada a fazer novas amizades praticamente toda semana. Mas isso para ela não é problema.

Alguns dias atrás passei um tempo observando Adriana e uma menina norueguesa da mesma idade brincando juntas. Eu não podia ouvir o que diziam, mas conversavam muito, gesticulavam, riam. No dia seguinte Adriana estava brincando com a mesma animação, desta vez com um menino alemão. Era como se falassem a mesmíssima língua, sem o mínimo problema de comunicação.

Resolvi conversar sobre a questão com a mãe de Adriana, que me disse que apesar de falar apenas espanhol a menina se comunica com crianças de qualquer nacionalidade, e que na escola também tem muitos amiguinhos estrangeiros, com quem conversa sempre animadamente e sem problemas. A mãe contou uma história muito engraçada, de Adriana conversando com um menino chinês e usando sons parecidos com os da língua chinesa para se comunicar com ele. Ela com certeza deve ter também seus truques para o norueguês, o sueco e o alemão.

Mas o ponto onde eu queria chegar com esse relato sobre a menina Adriana é a facilidade incrível com que crianças se comunicam, mesmo falando idiomas totalmente diferentes.  Quando especialistas dizem que pais de crianças que começam a frequentar a escola sem falar o idioma local não devem se preocupar, pois os pequenos usam várias formas de comunicação e o fato de falarem idiomas diferentes não atrapalha seu relacionamento social, eles realmente parecem estar corretos. Adriana e seus amiguinhos internacionais são um exemplo claro disso.



Copyright © Claudia Storvik, 2011. All rights reserved.



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7 comentários:

Paula Duailibi Homor disse...

Oi Claudia,
Escutei essa semana de uma pedagoga super renomada que é mais fácil a criança crescer trilingue do que bilingue. Vc sabia disso? Achei super curioso...parece que bilingue exsite mais mistura e confusão com as duas linguas, ao passo que trilingue a criança aprenda mais rápido a separar as linguas. Por isso, tenho visto vários casais brasileiros ou lationo americanos que moram em NY e colocam seus filhos na escola francesa para cresceram trilingues. No meu caso, minha filha está indo super bem com as tres linguas (portugues, ingles e espanhol). Mistura pouquissimo e sabe muito bem a hora e com quem se referir em determinado idioma.
bjos

Neda disse...

A mente dos pequenos é mesmo fenomenal. Minha mãe fala muito pouco do nosso aprendizado, mas acho que isso é por que para nossa família é natural, sei lá ... mas vejo pelo meu filho, nas brincadeiras agora o idioma é o espanhol, mesmo quando está sozinho. Agora, quando está com outras crianças brasileiras o idioma é português, mesmo que as crianças também falem espanhol. Em casa sabe muito bem a quem se dirigir em qual idioma. A mistura dos idiomas só acontece quando ele não sabe ou não lembra da palavra do idioma da vez. O curioso é que antes quando conhecia alguém que não falava português ele gastava todo o seu vocabulário em inglês, agora, quem não fala português fala espanhol e assim ele obrigou a família vikinga a se virar nos 30 pra entendê-lo, ele por sua vez não mostrava qualquer problema em entender o que os hospedes diziam. Quando chegamos, na escola, na primeira conversa com a prof. ela deixou bem claro que ele não tinha problema nenhum em entender e se fazer entender com as outras crianças e também entendia as prof. Elas é que tinham dificuldade em entendê-lo. Eu acho, que nós adultos, somos menos flexiveis na hora de entender alguém, as crianças não tem barreiras, ainda.
Bjs

Claudia Storvik disse...

Ola, Paula. Nao conheco a teoria mencionada pela pedagoga, mas existem muitos estudos recentes que demonstram que certas habilidades sao mais desenvolvidas em trilingues e poliglotas do que em bilingues. Aparentemente, quanto mais linguas uma pessoa fala, maiores sao os beneficios cognitivos. Qualquer hora escrevo um post sobre isso. Um abraco, Claudia

D. disse...

Claudia, as crianças sao ótimas mesmo. As vezes tenho impressão q elas nascem pequenos gênios e nós, os pais, as vezes as podamos.
A Adriana pelo visto tem uma infância maravilhosa.

Lu Azevedo disse...

Claudia, obrigada por me indicar esse post. Mas estou aqui pensando o que posso concluir disso, já que meu filho (exatamente 3 anos) tem aparentemente se sentido bastante frustrado ao não conseguir se comunicar com seus coleguinhas. Ele sempre ouviu ingles ao nosso redor, tem inventando sua propria lingua, mas mesmo assim não quer ir pra escola. Serão regras demais na escola (eles prezam muito a disciplina)? Será que tem a ver com a personalidade dele? Ou minha gravidez, ja que no momento tudo é comigo, tudo é a mamae. Ou será porque ele ainda é muito imaturo e não tem se interessando em brincar com os amiguinhos (ele realmente brinca muito sozinho, quase não se interage...). Bom, minha cabeça está à mil. O pior é que eu gosto da escola (Waldorf), acho um ambiente agradavel, os professores são comprometidos, eles incentivam muito a imaginação... Mas talvez não seja pra ele no momento...

Enfim, obrigada! Tenho muito o que pensar! Se souber qualquer artigo ou texto que possa me dar uma luz, agradeço muito.

Beijos,

Luciana (mae do Nicolas, morando no Canada)

Claudia Storvik disse...

Oi Lu, pode deixar, se achar algum artigo aviso. Acho que seria interessante voce observar se fora da escola seu filho se relaciona bem com criancas que so falam ingles. Se ele nao apresentar dificuldade de socializacao em outras situacoes, pode haver algum problema especifico no ambiente escolar. Sugiro que investigue a situacao mas nao se preocupe excessivamente, porque no fim tudo se resolve. Ficamos em contato. Um abraco, Claudia

Lu Azevedo disse...

Oi Claudia! Obrigada de novo! Ele não é a criança mais interativa que existe. Tem várias crianças da mesma idade aqui na rua e ele gosta mesmo é de uma só, com a qual ele se dá super bem, apesar da lingua. Vou pensar com calma em tudo e tomar uma decisão até o final do ano.

Obrigada de verdade, você me ajudou demais!

Abraços!

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